sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mãe e Filhos, manual da proprietária

Bolsa de Mulher

A frase "educar é um ato de amor" é bem conhecida. Pois é, na teoria tudo é muito bonito e recompensador, já na prática a tarefa não é tão simples assim. Em certos momentos, lidar com os pimpolhos fica bem complicado e exige uma dose maior de paciência e, principalmente, persistência. Quem nunca ficou sem saber o que fazer quando o filho se recusa a comer? Ou quando ele chora não querendo ir para a escola? Qual a solução? Chamar a Supernanny para dar uma ajudinha em casa? Nada disso! Leia este manual com atenção e certifique-se se você está usando corretamente a educação de seu filho.

Antes de qualquer atitude mais drástica é preciso saber se você está disposta a educar. A psicopedagoga Marlúcia Pessoa explica: "Os pais têm que ter disponibilidade interna para essa tarefa, porque educar exige perseverança e, às vezes, é necessário abrir mão de algumas coisas. Não é uma ação que você pode descartar. Educar é um exercício diário", afirma.

“Chame seu filho com certa antecedência, dê um banho para ele se acalmar e aí, sim, leve-o à mesa. É quase um ritual, e ele vai se acostumar a isso”



Segundo Marlúcia, o passo inicial é observar o comportamento do seu filho nas diversas situações diárias. Muitas vezes, o desequilíbrio pode estar nos outros membros da família e não na criança - ela apenas reage aos problemas que se apresentam.

A psicopedagoga afirma que tudo se trata de um jogo e são os pais que normalmente iniciam essa "brincadeira". "A criança tem uma visão de mundo muito curiosa. Quando ela percebe que os pais estão inseguros ou com pressa, ela tem o jogo nas mãos. É um controle inconsciente que ela tem. Os adultos precisam aprender a usar em casa tudo o que eles aprendem sobre marketing no trabalho e mudar a tática. Não entrem no jogo das crianças. Você só joga quando tem alguém para jogar", ensina. Portanto, se o jogo na sua casa já começou, prepare suas peças e... boa sorte!


Drama 1: seu filho não quer comer.

Esse é realmente um drama para muitos pais. Por mais que eles insistam, que criança vai querer parar as brincadeiras, jogos e diversão para comer? Momentos como esses são sinônimos de dor de cabeça e muita chateação. É lógico que é preciso ter certas regras em casa e o horário de refeição deve ser um momento especial e tranqüilo. "Chame seu filho com certa antecedência, dê um banho para ele se acalmar e aí, sim, leve-o à mesa. É quase um ritual, e ele vai se acostumar a isso", sugere a pedagoga Andréa Romão. Ela lembra que esse é um momento em que toda atenção deve estar voltada para a refeição. Portanto, computadores, videogames e televisão devem estar desligados. "Você deve educar seu filho para que ele perceba que tem hora e tempo para tudo", ensina Andréa.


Se ainda sim o seu pimpolho não quiser comer, respeite-o. Isso mesmo. "Gente, os pais devem entender que as crianças podem estar sem fome mesmo. Isso acontece de vez em quando comigo, com você, por que não com as crianças?", questiona a psicopedagoga Marlúcia Pessoa. Ela lembra que são nessas horas que os filhos têm os pais nas mãos. "Se você obriga, a criança vai entender que tem o controle. Aí os pais se desestabilizam, fazem chantagens, forçam-na a comer, colocam-na de castigo. A sua tática a partir de agora é fazer o jogo do contrário. Não quer? Não come! Espere a próxima refeição", ensina.

Drama 2: não quer dormir na hora certa.

Imagine a cena: você e seu marido estão exaustos depois de um longo e estressante dia de trabalho. Mas o seu filho parece estar alheio a tudo isso e permanece com a bateria recarregada. Depois de várias tentativas para apertar o botão de desligar, você o obriga a dormir. É a típica situação traumática para pais e filhos, que vai se perpetuar se você não agir no cerne da questão.


A primeira coisa que você deve fazer é reparar se a sua rotina não está alterando os horários do seu filho. Nos dias de hoje, pai e mãe precisam se desdobrar para pagar todas as contas, fazem cursos e especializações e possuem uma vida repleta de compromissos e cobranças. A corda arrebenta no lado mais fraco. Resultado: as crianças acabam ficando muito tempo sozinhas. Quando os pais chegam em casa, os filhos, obviamente, querem aproveitar o pai e a mãe. Ao mesmo tempo, a escola recomenda que as crianças durmam cedo para estarem dispostas no dia seguinte. E agora, como lidar com esse dilema?

A pedagoga Andréa Romão sugere: reveja a rotina da família. "Tente encontrar o máximo de tempo para estar com os seus filhos. A hora da refeição, por exemplo". Mas, ela lembra, é importante que esse tempo tenha qualidade e não só quantidade. "Você pode passar duas horas com seu filho, mas com a cabeça nos seus problemas. É preferível separar quarenta minutos de dedicação exclusiva a ele e depois mostrar que você também tem que cuidar de outros afazeres", ensina Andréa. Bastou preparar a mochila, o lanche e o uniforme para o seu filho começar a abrir o berreiro. O caminho de casa para a escola fica parecendo uma peregrinação e um teste de paciência (que, normalmente, você acaba perdendo). Neste caso, é preciso atenção redobrada e um trabalho em parceria com a escola.

No período de adaptação escolar, esse tipo de comportamento é compreensível, principalmente com os mais pequenos. Geralmente, essa atitude é agravada por uma insegurança dos pais, que já não terão controle absoluto dos filhos. "A criança é muito esperta. Ela sente que a família está insegura e acha que está desprotegida. Se os pais se mostrarem maduros e compreenderem que isso faz parte do desenvolvimento dos filhos, esse processo se dará de forma mais natural", explica Andréa.

“Em tempo de famílias mononucleares, aprender a se sociabilizar é das tarefas mais complicadas”

Porém, se o seu rebento não se encaixa neste quadro, mas cria confusões constantes na hora de ir para a escola, é preciso ir mais a fundo na questão e verificar se ele está com algum problema nas aulas ou com os coleguinhas. Se necessário, procure a orientação pedagógica do colégio e peça para que a professora observe se há alguma dificuldade de relacionamento. Depois de identificado o problema, é preciso recuperar a confiança do seu filho na escola. É um exercício de paciência e requer muita conversa para que ele perceba que tem que aprender a resolver os conflitos e não fugir deles.

Drama 4: é egoísta.

Não é privilégio deles, mas é mais comumente encontrado nos filhos únicos. Também, pudera, todas as atenções, brinquedos, presentes são para eles. Como lidar com tanta vaidade? Soma-se a isso uma certa culpa dos pais por não darem um irmãozinho ou não terem tempo para ficar com os filhos.

Em tempo de famílias mononucleares, aprender a se sociabilizar é das tarefas mais complicadas. Marlúcia Pessoa sugere que os pais matriculem seus filhos em atividades que exijam contato com outras pessoas. Pode ser um esporte coletivo, aula de teatro ou até grupos de escoteiros mirins. "Dessa forma a criança vai perceber que ela precisa do outro para continuar a atividade. Pode ser até algum tipo de voluntariado, porque, além das atividades, a criança vai dividir os sentimentos", diz a psicopedagoga.

Drama 5: tem atitudes agressivas.

Neste caso, a questão deve ser muito bem avaliada, pois essa agressividade pode ter causas mais complexas. Primeiramente, observe se essas atitudes são pontuais e se vêm acontecendo há bastante tempo. Elas podem ser um reflexo do comportamento familiar, mas podem ter origens neurológicas também. Se este for o caso, é preciso ajuda médica. "É muito importante avaliar se a criança é ou se ela está agressiva. Caso ela seja agressiva, é melhor aprender a lidar com este tipo de personalidade para tentar mudar o comportamento", ensina Marlúcia.

Se, ao contrário, a criança estiver passando por um momento em que ela esteja exteriorizando as emoções desta forma, procure agir na causa do problema. E, se possível, faça atividades e brincadeiras que permitam o relaxamento dessas crianças, como uma música calma ou até mesmo uma massagem. "O toque dos pais é muito reconfortante e essencial para as crianças", diz a pedagoga Andréa Romão.

Marlúcia Pessoa faz um alerta aos pais e responsáveis: nada de ficar fazendo comparações com o comportamento de outras crianças. "As crianças são muito cobradas atualmente e isso altera o comportamento delas. Ficar julgando e comparando vai fazer com que elas se sintam frustradas e reajam de uma forma negativa", sinaliza.

Drama 6: é malcriado e indisciplinado.

Cena clássica: a criança fica aos berros na rua, deixando os pais numa situação constrangedora, ou por não conseguir controlá-la, ou por perderem a cabeça e baterem no filho. Solução: muita conversa. Sim, acredite! É o momento de aprender a negociar. É importante sair da zona de conflito para que seu filho não controle o jogo, lembra-se? Para isso, vale tudo: conte uma história, tire a atenção dele do problema. E o mais importante: não se desestabilize, mas mostre a sua autoridade. Quando ele vir que você não vai admitir comportamentos assim, cenas desse tipo ficarão mais raras. Para isso, paciência, muita paciência.

O castigo é válido quando ele é coerente com o problema. Quebrou? Vai arrumar! Se não souber o que fazer na hora, diga que pensou em duas possibilidades e vai decidir depois. "Muitas vezes a criança se comporta desta forma para sentir a segurança do adulto, para que ele a guie. Ela tenta vencer o adulto pelo cansaço, por isso é preciso firmeza", afirma Marlúcia.

Drama 7: é muito tímido.

Bem, timidez não é considerada necessariamente um problema, a não ser que essa característica afete as relações sociais de seus filhos, isto é, que ele comece a evitar o contato com os amiguinhos. Muitas vezes, a criança é apenas introspectiva e não há nenhum mal nisso. "É preciso respeitar os tímidos e ensinar que as pessoas podem ser diferentes no pensar e no agir. Nem toda criança precisa ficar dando pulos de alegria o tempo todo", diz Marlúcia.

Segundo a psicopedagoga, os pais precisam descobrir se os seus filhos são realmente tímidos ou se têm medo de errar, comportamento típico da sociedade competitiva em que vivemos. De acordo com ela, geralmente a criança tímida não se expõe de imediato mas, depois que está ambientada ao local, se comporta normalmente. "É como acontece conosco. Às vezes, tem um local em que você se sente mais confortável, mas existem outros em que você não fica com um comportamento natural".


Caso a timidez de seu filho seja mais complexa, uma aula de teatro é uma boa alternativa. Mas, atenção: não o obrigue a freqüentar. Ele precisa querer fazer essas aulas. Respeite-o, seu filho não é seu adversário. Nesse jogo, o ponto deve ir para você e para ele! Afinal, a vitória tem que ser da família!